Wladmir Coelho
Espantoso: Mubarak perdeu o apoio do Exército e ainda não caiu
- A ditadura de Mubarak ainda não caiu em função dos interesses estratégicos dos EUA no Oriente Médio região responsável pelo fornecimento de grande parte do petróleo consumido no mundo e detentora de dois terços das reservas mundiais provadas. O Egito, particularmente, não apresenta índices elevados de produção, mas ocupa uma posição geopolítica de grande importância ao controlar o Canal de Suez , por onde circulam 5% do tráfego petroleiro mundial, existindo ainda a sua condição de proteção estratégica para Israel oferecendo uma espécie de barreira ao Irã.
- O volume de petróleo transportado através de Suez pode parecer pequeno, mas implica em grande parte do consumo europeu.
Aumento no preço do petróleo ato especulativo
- O clima de pânico observado nos negócios envolvendo petróleo beneficia claramente os detentores dos papeis de compra afinal apesar dos conflitos civis no Egito e Oriente Médio os canais de transporte continuam liberados e não existem registros de ataques aos poços, navios petroleiros ou oleodutos e muito menos ameaças ao transporte através do Canal de Suez. Mesmo assim o preço no mercado futuro atingiu U$ 103,00 caindo em seguida.
- Este aumento do petróleo resulta da concentração de poder no setor financeiro e não pode ser entendido, exclusivamente, a partir das “leis naturais do mercado” existindo um conteúdo político com conseqüências perigosas.
Olho na China
- Devemos voltar os nossos olhos para a China, cuja segurança energética depende da importação de petróleo, recordando que desde o final do ano passado o principal consumidor das commodities do terceiro mundo, caso prefira um eufemismo escrevo também países em desenvolvimento, administra um programa de racionamento interno de combustíveis e distribuição de alimentos para sua enorme parcela da população considerada de baixa renda.
- O modelo chinês está atrelado a compensação do baixo salário ao subsídio dos alimentos e moradia uma elevação da inflação vai, naturalmente, exigir a destinação de maiores recursos para evitar convulsões sociais e consequente aumento nos valores da produção (inflação).
- Elevação nos valores da produção resultaria em aumento no valor da moeda chinesa? Vamos aguardar.
- Imaginem quanto nos custará uma queda, de qualquer dimensão, no volume de compra de matéria prima dos chineses resultante no aumento dos preços de seus produtos de exportação.
O modelo do pré-sal torna frágil nossa segurança energética
- Ainda existem pessoas defendendo o modelo exportador petrolífero implantado no Brasil vejam o quanto é vulnerável um país, apesar de toda sua força produtiva local, depender da importação de energia. No caso brasileiro o petróleo a ser explorado no pré-sal será propriedade da empresa exploradora que vai exportar tudo. Vamos somar ao problema a falácia do conteúdo nacional resultante da concentração no setor de equipamentos para o petróleo. No final das contas vamos trabalhar para garantir o abastecimento dos outros e ainda financiar os oligopólios. Acorda empresariado nacional!
Democracia não combina com poder econômico
- O economista Nouriel Roubini em declaração ao Financial Times (1/02/11) confirmou o pensamento das elites econômicas a respeito das revoltas populares no Oriente Médio e Norte da África prevendo: “A experiência recente de “eleições livres” e “democracia” o Oriente Médio tem sido decepcionante: A revolução iraniana conduziu ao regime autoritário controlado pelos fundamentalistas islâmicos, as eleições em Gaza possibilitaram a ascensão do Hezbollah(...)”
- Os EUA precisam agora encontrar um novo conceito de democracia que permita a legitimação de governos ditatoriais a ser usado nos países produtores de petróleo. A fórmula usada no Iraque já levanta insatisfações entre os conservadores e mercado financeiro que consideram preocupante a presença de religiosos no governo.
- A radicalização no Egito recebe em parte da imprensa européia o título de Guerra Civil. Preocupante este quadro que possibilita articulação de ações “humanitárias” ou justificativa de controle militar de Suez em função do “caos”. Esta inclusive foi a base da desculpa do ditador Mubarak para permanecer no cargo.
- Denominar a força paramilitar que espanca os manifestantes e jornalistas de “apoiadores de Mubarak” está errado. Tratam-se, visivelmente, de pessoas treinadas envolvidas em ações concertadas para justificar uma ação do Exército agora transformado em elemento garantidor da ordem. Enquanto isso o Mubarak fica para delicia dos especuladores no mercado do petróleo.
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