PETRÓLEO
E CORRUPÇÃO IV
A
oitava irmã
Wladmir
Coelho
No livro “Petróleo:
Contratos de risco e dependência” o jornalista Bernardo Kucinski cita uma
emblemática frase do ex-ministro das Minas e Energia Shigeaki Ueki publicada
nos jornais em 1974: “Temos que transformar a Petrobras na oitava irmã do
Petróleo”.
Em plena ditadura o tom
ufanista revela um Brasil potência quem sabe um novo império que surge com
direito a participação permanente no Conselho de Segurança da ONU e outros
balangandãs civicos. Naturalmente, e este detalhe ficava escondido, para
ascender à condição de oitava irmã seria necessário uma associação da Petrobras
com as outras sete.
E assim fez a ditadura.
Os governantes, civis e militares, criaram a primeira quebra do monopólio do
petróleo no Brasil instituindo os chamados Contratos de Risco. Através deste
expediente os oligopólios, em total desrespeito a lei, ficavam autorizados a
explorar o petróleo no Brasil.
Enquanto isso a
Petrobras, seguindo os princípios do relatório Link, correria o mundo em busca
de áreas com potencial petrolífero associando-se as suas “7 irmãs”. No Brasil a
empresa nacional seria responsável por desenvolver os estudos e exploração da
plataforma continental.
Mais uma vez o discurso
da livre iniciativa surgia para justificar a presença dos oligopólios no Brasil.
Na realidade iniciava-se um processo de utilização da Petrobras como ponta de
lança do imperialismo aspecto ainda não sepultado.
De forma concreta a
abertura da exploração às empresas internacionais não proporcionou grandes
descobertas. Devemos, todavia, analisar cautelosamente este resultado e
recordar que o sonho de transformar a Petrobras em oitava irmã implica na
aceitação das normas estabelecidas em 1928 quando os oligopólios dividiram o
mundo de acordo com seus interesses comerciais.
Dentre estas normas,
afirma Kurt Rudolf Mirow em seu livro “A ditadura dos Cartéis”, encontra-se o
controle da quantidade de petróleo colocado à venda. Uma das praticas recorrentes dos oligopólios, para regular a
quantidade e preço do petróleo, constitui em apropriar-se de áreas com potencial
produtivo e falsificar a profundidade dos poços alegando em seguida que estes
encontram-se secos resguardando a área para explorações futuras.
No Brasil esta prática
não era inédita e foi denunciada por Monteiro Lobato em “O escândalo do
petróleo e do ferro”. Nesta obra Lobato aponta com clareza a farsa montada pelo
engenheiro Fleury da Rocha que adulterou a profundidade de vários poços para alegar
a inexistência de petróleo no Brasil.
Vamos somando os fatos.
A Petrobras seguiu, durante a ditadura militar, os princípios apresentados no
Relatório Link e investiu elevadas somas em pesquisas e exploração na
plataforma continental.
Os resultados deste
trabalho conhecemos todos, todavia a apropriação dos frutos deste investimento
não constitui exclusividade nacional. O delírio da oitava irmã, na realidade,
criava as bases para o financiamento dos oligopólios que apoderaram-se de
parcela significativa do trabalho.
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