A MISTIFICAÇÃO DO PRÉ-SAL
Wladmir Coelho
O novo marco regulatório do pré-sal revela a intenção governamental de implantar uma política de acelerada exportação do petróleo brasileiro mantendo viva nossa tradição colonial. Nossa política econômica do petróleo encontra-se distanciada de qualquer principio de auto-suficiência desassociada de um planejamento – e muito menos ainda de um plano – para a ampliação de um parque industrial nacional e investimentos em tecnologias não voltadas exclusivamente para o petróleo. Neste último ponto, inclusive, precisamos observar o controle da maioria das patentes em poder das empresas estadunidenses fato cristalinamente observado através da concentração do setor nas mãos da General Eletric.
A mistificação relativa ao petróleo do pré-sal tem cumprido o papel de anestesiar a critica ocultando o novo papel reservado a Petrobrás (empresa criada para garantir a auto-suficiência servindo de base para o desenvolvimento de uma indústria nacional) de elemento financiador dos grandes consórcios internacionais. Para estes o modelo legal brasileiro foi um prêmio permitindo-lhes investir o mínimo graças ao trabalho da Petrobrás.
British Petroleum, Shell, Exxon Móbil, Conoco Philips, os chineses e suas estatais andam pelo mundo buscando novas áreas para iniciar a exploração garantindo o abastecimento de seus países de origem e ainda lucrando com a venda de petróleo e derivados aos produtores. No caso brasileiro - relativo ao petróleo do pré-sal – estes oligopólios podem perfeitamente combinar a “maior” quantidade de petróleo a ser entregue ao governo como pagamento e dispor do restante da forma mais conveniente e, certamente, não será beneficiando o ouro negro em nossas refinarias, afinal um país exportador de matéria prima não vai utilizar esta energia mesmo.
A segurança energética dos Estados Unidos, China e Europa depende do controle das regiões produtoras e segundo estimativas da consultoria Derrick Petroleum, divulgadas na imprensa internacional, em 2011 os oligopólios pretendem vender 90 bilhões de dólares em ativos considerados periféricos, a saber, áreas com produção em declínio para investir em novos campos, notadamente aqueles localizados em grandes profundidades marítimas.
Os chineses devem assumir o controle de parte considerável destes ativos, mas pretendem ampliar controlando áreas novas ou recentemente abertas ao capital externo conforme verificamos no Iraque, Brasil (parte do petróleo do pré-sal foi oferecido como pagamento de um empréstimo de 10 bilhões de dólares em 2009) Venezuela (os cabos do Wilileaks revelaram o descontentamento de Chaves com os chineses que revendiam a preço de mercado o petróleo comprado em condições diferenciadas), Equador. Os demais oligopólios também correm para controlar espaços com potencial produtivo nestas mesmas regiões e adaptam discursos ecológicos, nacionalistas, religiosos as suas necessidades. Compram governantes e mistificam.
Não estamos aqui escrevendo contra a exportação de matéria prima em sua totalidade, afinal até a China vende minerais, mas somente aquela parcela não necessária a produção nacional atual e futura. Este caso é notório quando analisamos a questão das terras raras, minerais com propriedades eletro magnéticas vitais para a fabricação de automóveis híbridos, televisores, armas. Os chineses controlam 97% da produção mundial e chegaram a conclusão que deveriam diminuir em 10% a cota de exportação para garantir as necessidades nacionais. Os Estados Unidos, Japão, Alemanha, importadores, protestaram, ameaçaram e a China disse não!
Enquanto isso no Brasil saudamos e mistificamos o ciclo do petróleo convivendo com dois tipos de legislação – sim o modelo FHC ainda vale para os campos fora do pré-sal e não param de ser leiloados – ambos extremamente abertos ao capital internacional e sua tradicional prática predatória.
3 comentários:
Caro,
Interessante sua perspectiva, porém acredito ainda que em caráter exploratório a petrobrás esta a anos luz, na frente dos concorrentes, fora a instalação de seu estaleiro, que pode propiciar uma nova área de négocios, o de equipamentos para extração.
Concordo que ainda somos deficitários no quesito Refinaria, o que torna necessario mais investimento no setor, ainda mais agora que o numero de barris-ano do brasil deve aumentar significativamente, graças ao pré-sal.
att,
O texto não questiona a capacidade técnica da Petrobrás.Mostrei o equivoco do governo em transformar a empresa símbolo do Brasil em elemento financiador da tradição colonial voltada para a exportação de produtos primários e beneficiando quem? Naturalmente os oligopólios (privados ou estatais)e ainda revelei a nova prática destes grupos quanto ao abandono de áreas em decréscimo de produção para novos campos. No texto mostro ainda a preocupação com a falta de uma política de segurança energética para o Brasil e os riscos que esta atitude pode provocar a nossa soberanis econômica. Wladmir Coelho
"Neste último ponto, inclusive, precisamos observar o controle da maioria das patentes em poder das empresas estadunidenses fato cristalinamente observado através da concentração do setor nas mãos da General Eletric."
Foi desta parte que eu discordei. Porém como vc eu concordo que Petrobrás deve ser vista como uma empresa de energia, porém como sempre a visão e limitada, nossas refinarias com certeza não darão conta da nova capacidade de produção. Sou a favor de investimento nessa área, bem como de uma unificação de todo o processo Energético Brasileiro, seja através de combustiveis fosséis, nucleares hidraulicos eolicos ou solares, o Ministerio da Minas energia, deveria fazer um plano que contemplasse todos esses setores.
Mas como isso nunca acontece o que vemos são medidas isoladas, no setor Petroquímico, resolvem como destinar o dinheiro do pré sal, no setor de "energia domestica" resolvem que precisamos economizar, e promovem um apagão e depois investem novamente em termelétricas e hidrelétricas que depois terão suas capacidades novamente superadas.
No setor de energia nuclear o projeto Angra e um fracasso.
Entao resumindo todo nosso setor energético e mal planejado, isso não acontece apenas com o petróleo.
att,
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