PREÇO DOS
COMBUSTÍVEIS:
um debate raso
Wladmir Coelho
O
debate relativo a política de preços dos combustíveis representa um retrocesso
ao período anterior a Petrobras. No final dos anos 40, durante o governo do
Marechal Dutra, este tema foi apresentado através de um modelo amparado na entrega
aos trustes internacionais (SHELL, Standart Oil, BP) de todo o petróleo
nacional cujo processo de transformação seria efetivado em refinarias no
Brasil.
Observe,
neste caso, a inexistência de uma política nacional para exploração do petróleo
visto a sua entrega às necessidades econômicas dos oligopólios impondo estes o
ritmo ou volume a ser extraído e consumido no Brasil.
Foi
a mobilização dos setores nacionalistas (civis, militares, empresários,
estudantes, comunistas, trabalhistas...) a mola para a criação do movimento cívico,
O Petróleo é Nosso, cujo resultado foi a assinatura, pelo presidente Getúlio
Vargas, da Lei 2004 de 1953 criando a Petrobras e instituindo o monopólio
estatal do petróleo.
Neste
momento não estava em discussão a simples política de preços dos combustíveis e
sim a criação de uma POLÍTICA ECONÔMICA DO PETRÓLEO. A economia nacional
recebia neste momento os elementos necessários ao rompimento com o modelo
econômico de base colonial reconhecendo no petróleo a base da produção.
A
redução do debate decorrente da paralisação das transportadoras e caminhoneiros
ao fato preço do óleo Diesel ignora a relação da necessidade de recuperação da
Petrobras de sua função de executora de uma política voltada a autossuficiência
nacional e básica para o planejamento econômico
nacional.
Na
fila dos postos ouviam-se debates infindos a respeito da política de preços
muitos repetindo os argumentos apresentados no Telecurso Jornal Nacional. Retratam
o momento, é verdade, ignoram as fundamentações históricas esquecem do papel a
que foi reduzida a Petrobras. Não colocam em questão sequer uma questão de base
liberal: qual o motivo da criação da Petrobras?
Questão
de base liberal! Como assim? pergunta o sujeito enrolado na bandeira nacional,
nariz de palhaço a soldo sei lá de quem. Sim meu caro “verdeamarelista” a
criação da Petrobras responde a fatos colocados por Adam Smith, no final do século
XVIII, a respeito do necessário subsídio aos combustíveis, naquela época a
matriz era o carvão, enquanto o setor privado não apresentasse os meios de
explora-lo afim de manter a necessária produção.
Um
segundo economista, nascido na Alemanha no século XIX, observou a necessidade
de regulamentação, pelo Estado, da economia. Após estudar o sucesso industrial
dos Estados Unidos verificou a importância do Estado como agente regulamentador
para o crescimento do chamado Sistema Econômico Nacional. Seu nome Friederich List.
Vejamos:
até aqui temos dois defensores da iniciativa privada, com discordâncias quanto
ao papel do Estado na economia, cujos fundamentos encontram-se as
justificativas para a criação da Petrobras. O debate está além do fato preço.
O
problema avança e pira os “verdeamarelistas” quando confrontada a Petrobras com
os interesses imperiais. Na verdade, os ditos patriotas representam o pensamento
contra o desenvolvimento do Brasil visto que este fato atinge profundamente os
interesses dos oligopólios cuja sede está nos Estados Unidos.
A
Petrobras foi criada como empresa voltada ao desenvolvimento nacional e este aspecto
resulta no necessário rompimento com o modelo econômico de base colonial. Ora,
não foi assim que os Estados Unidos fizeram?
Enquanto
nos EUA avançavam as indústrias, no Brasil a mentalidade elitista recorria a
crença da acumulação, hoje simbolizada no “verdeamarelismo” com nariz de
palhaço, associada a “vocação” para
agricultura e exploração mineral.
O
Telecurso do Jornal Nacional reforça o debate do preço em detrimento da política
econômica do petróleo. O incrível é verificar por toda parte os xingamentos às
aulinhas dos professores do atraso Willian Bonner, Miriam Leitão e outros, mas
apesar disto ainda verificar por toda parte a ausência de um debate relativo ao
valor da Petrobras enquanto empresa responsável não somente pelo refino ou preço
dos combustíveis.
Precisamos
nos libertar do Telecurso Jornal Nacional e do debate raso decorrente desta
escolinha. Acrescentar ao debate econômico as necessárias bases históricas para
entendermos o caminho a percorrer, defender um projeto econômico nacional, retomar,
na Constituição, o controle do bem econômico petróleo.
A
crise deste momento é a crise de sempre. Presentes, seus elementos, desde a condenação de um militar
nacionalista de nome Joaquim José da Silva Xavier delatado pelo coronel – “verdeamarelista”
- Joaquim Silvério dos Reis.
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