A
destruição da soberania nacional
através das reformas coloniais
Wladmir
Coelho
O governo e seus bajuladores
tentam diariamente confundir os trabalhadores com ações de retirada de direitos
apresentadas, na grande mídia, como sacrifícios momentâneos e necessários para
alcançar um futuro paradisíaco.
Apresentam essas
medidas transformando, por exemplo, a legislação trabalhista em um conjunto de
mordomias próprias de um tempo paternalista que ficou perdido na história. A
base da farsa é muito simples; inicialmente jogam uma série de datas e restringem
essas ao passado entendido nessa fórmula como ultrapassado.
Vejamos o caso da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): criada em 1943 é entendida pelos
defensores da modernidade do atraso como um conjunto de leis sem sentido que impedem
a criação de empregos.
Quanto ao fator tempo
associado a ultrapassado lembremos que Michel Temer nasceu em 1940, Henrique
Meireles em 1945 e o jornal O Globo em 1925. Seria o caso de extinguir esses
“dinossauros”?
Claro que não. A
pergunta a ser feita diante da CLT seria: Como organizavam-se no Brasil as
relações de trabalho antes de 1943? Quais foram os objetivos da criação da CLT?
Esses objetivos foram alcançados?
Outra questão: No
momento anterior as leis trabalhistas em debate o Brasil apresentava um vasto
parque industrial e pleno emprego? Para essa resposta vamos delimitar o tempo
entre a fundação do Estado brasileiro em 1822 e o ano de 1943.
Temos, dessa forma, 121
anos sem regulamentação das relações trabalhistas e deste período 67 anos de
escravidão. Ao longo desse tempo os famosos investidores internacionais não
encontravam nenhum tipo de obstáculo à instalação de seus empreendimentos,
entretanto a economia nacional continuava atrasada fundamentada na exportação
de produtos primários.
Para superar esse
atraso tornou-se necessário reconhecer a existência do sistema econômico
nacional em oposição a simples submissão ao fundamento liberal das etapas de
desenvolvimento. Nessa fórmula do final do século XVIII o equilíbrio econômico
mundial fundamenta-se no fornecimento de matéria prima do menos desenvolvido
economicamente ao industrializado ficando o primeiro na condição de esperar
naturalmente o seu momento de crescimento ou desenvolvimento.
O modelo brasileiro do
chamado período Vargas busca um caminho oposto iniciando uma política de intervenção
no domínio econômico visando o fortalecimento do mercado interno. Nesse sentido
o Estado assume, inclusive, o papel de empresário aspecto verificado na criação
da chamada indústria de base culminando na criação da Petrobras em 1953.
O fato fortalecimento
do mercado interno e Estado empresário não implica em proibição da existência
da iniciativa privada, do lucro. Temos, ao contrário, uma primeira tentativa de
modernização ou superação das características coloniais presentes na economia
brasileira. Ao Estado reservou-se o papel de orientador do processo.
A legislação
trabalhista consolidada em 1943, desta forma, constitui parte da proposta de
modernização do capitalismo no Brasil relacionando-se diretamente a organização
do mercado interno.
A CLT, assim exposto,
não pode ser entendida como fator de atraso ou medida anticapitalista sua
suspensão implica, na realidade, em retrocesso evidente aos tempos ainda mais
primitivos do capitalismo nacional.
Temos em jogo não a
integração do Brasil ao mercado internacional como falsamente divulgam os
defensores do retrocesso e basta lembrarmos que essa integração ocorre desde
1500 e sempre da mesma forma; submissa, colonial. A CLT, a Petrobras, o Banco
do Brasil fortalecidos representam uma forma de atender aos interesses
econômicos nacionais diante das demais potências.
A
derrama do século XXI
O governo ilegítimo,
impopular aprofunda a submissão da economia nacional aos interesses dos
predadores internacionais. E tem muita pressa.Qual o motivo?
Em 2015 encontravam-se nos
cofres térmicos dos bancos e seus filhotes conhecidos por fundos de
investimentos, aproximadamente, US$ 230 trilhões em produtos financeiros
derivados que necessitam, urgentemente, de sua transformação em dinheiro
verdadeiro.
Para ilustrar a
fragilidade desses US$ 230 trilhões basta comparar o total existente em 2013 representando
a soma de US$ 710 trilhões, ou seja, US$ 480 trilhões evaporaram entre os anos
de 2013 e 2015.
O modo de suprir a
dissipação do que ainda resta em produtos financeiros derivados é simples: A
cobrança dos juros da divida; o Brasil reserva 43% de seu orçamento para
pagamento de juros. Temos assim uma das fórmulas de garantir a irrigação dos
cofres dos bancos e fundos de investimentos internacionais.
Outra forma utilizada é
transferir os papeis através de negociações efetivadas utilizando a compra de
ativos aplicando os recursos dos fundos internacionais de investimentos.
No mundo esses fundos jogam seus papeis em
tudo que possibilite criar dinheiro real. O fundo Warren Buffett, por exemplo,
compra desde fábrica de maionese à escolas e nestes aplicam a fórmula Pedro
Parente: demissão, desinvestimento, aumento da exploração do trabalhador e
depois vendem.
No Brasil o fundo
Buffet associa-se aos controladores da AMBEV, não por coincidência, citada pelo
senhor Parente como modelo exemplar de administração. Esses mesmos fundos
também falam através da fundação Lemann muito interessada na privatização da
educação no Brasil e patrocinadora, ao lado do Banco Itaú e assemelhados, da
medida provisória 746.
Apenas recordando:
Brookfield, um fundo de investimento com sede no Canadá, recentemente
apresentou negociações com a Petrobrás.
Observe ainda que o
citado fundo apresenta-se interessado em construtoras, pedágios e
principalmente energia aqui no Brasil. Os fundos acumularam papel volátil agora
precisam salvar seus investidores transformando esse acumulo em dinheiro de
verdade.
As chamadas reformas
fiscal, previdenciária, trabalhista, educacional e plano de desinvestimento da
Petrobras apresentam em comum o discurso messiânico da salvação através do
sacrifício. Sacrifício dos trabalhadores e da soberania brasileira como sabemos
e sentimos.
A
tática messiânica
O ministro Henrique
Meireles, nascido em 1945, ocupou recentemente rede de rádio e televisão para
defender o fim das legislações dos anos 1940 que segundo ele encontram-se
superadas.
Meireles, ministro do
governo considerado ilegítimo pelo povo, esforçou-se em sua fala na tentativa
de enganar os brasileiros através do discurso que associa a administração
pública à gestão dos recursos de uma família. Grossa lorota para justificar a
prática antipatriótica.
Uma família de
trabalhadores não possui, de forma individual, os meios para estimular a
produção nacional, determinar os índices dos juros, controlar a entrada e saída
de moedas estrangeiras, emitir títulos da divida pública e menos ainda emitir
moeda.
Uma família de
trabalhadores que adotasse o credo neoliberal também não poderia, como forma de
superar dificuldades econômicas, recolher de seu vizinho, durante 20 anos, uma
porcentagem de seu salário ou cobrar deste um valor monetário pelo acesso ao
hospital com finalidade única de pagar dividas.
O messianismo do
banqueiro de Boston transforma investimento em educação em gastos e manda
retirar os recursos da escola básica e superior através da PEC 241 e MP 746.
Desmantela a mínima proteção ao trabalhador existente na CLT e destrói as proteções
ao sistema econômico nacional que sobreviveram ao furacão neoliberal dos anos
de 1990 representados no sucateamento do Banco do Brasil e enfraquecimento da
Petrobras.
Essas ações surgem na
grande imprensa como sacrifício necessário para superação de uma crise
ocultando o caráter perverso de aprofundamento do modelo econômico de base
colonial.
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