OURO
PRETO:
O
DIA DE TIRADENTES
Wladmir
Coelho
Nos anos 60 o deputado
operário, Sinval Bambirra, preocupado com as ameaças de incêndio e consequente
destruição do patrimônio histórico e cultural de Ouro Preto apresentou um
projeto de lei criando uma unidade do Corpo de Bombeiros naquele município.
Os representantes das
classes dominantes do Estado colocaram-se de forma contrária à iniciativa do
parlamentar questionando estes desde as necessidades técnicas para instalação
dos bombeiros em Ouro Preto, a capacidade de um tecelão propor formas de
preservação do patrimônio histórico, o controle dos gastos públicos sem contar
a desconfiança da interferência de Moscou no dito projeto. Afinal a cor dos Bombeiros
é vermelha.
Iniciei este texto, recordando
uma conversa com o líder operário Sinval Bambirra, para ilustrar a indisposição
da classe dominante de Minas e do Brasil com a preservação do patrimônio
histórico e por consequência com a cultura e educação.
Afinal os donos do poder apenas
ocupam esta condição em função da submissão aos interesses imperialistas
traduzindo estes em prática econômica de base colonial e aqui resgato mais um
ensinamento; o professor Washington Albino explicando o que é colônia: trata-se
de um lugar do qual retiram-se coisas.
Ao propor a proteção e
preservação da cidade símbolo de um movimento político contrário a exploração
colonial um deputado operário questionava o modelo econômico e mostrava aos
trabalhadores as origens históricas do atraso.
Neste ponto amplia-se a
associação do termo cultura e desta ao patrimônio histórico para além da condição
material passando a incluir os meios para o entendimento dos modelos de
organização social necessitando, para este objetivo, a formação de
pesquisadores e financiamento de pesquisas.
A elite econômica
nacional, diante desta situação, prefere o discurso do mecenas ao modo do
império elegendo aqui e ali a sua arte oficial criando suas fantasias destruindo,
ignorando, criminalizando ou marginalizando a cultura de nosso povo entendendo
esta como ameaça ao modelo instituído.
Os recentes atos
governamentais que retiram a Petrobras e o Sistema S do cenário cultural, o
corte orçamentário na educação, nas pesquisas apresentam como objetivo criar os
meios necessários para a preponderância de uma cultura oficial de base
fundamentalista religiosa e econômica.
O
dia de Tiradentes
Seguindo a linha colonialista
os discursos oficiais do último dia 21 de abril apresentaram-se de forma vazia
com vivas à liberdade e a democracia com repetição protocolar do nome do mártir
da inconfidência.
O Sr. Jair Bolsonaro foi convidado,
mas preferiu passear de motocicleta no Guarujá restando ao cerimonial improvisar
o Sr. Romeo Zema como orador do evento para o qual não revelava nenhuma simpatia.
Durante a leitura do
discurso o Sr. Zema não conseguiu pronunciar, sem embolar, o nome civil do
herói homenageado e tropeçava seguidamente na palavra pátria. Freud explica? seria
uma intervenção sobrenatural? não tenho respostas.
Concretamente temos no
fato, tropeços na fala oficial, a dificuldade da conciliação entre defesa da
soberania nacional, aspecto imediatamente associado ao movimento dos
inconfidentes, aos princípios entreguistas presentes nas ações governamentais.
A contradição e a disputa
entre o modelo cultural importado pelos governantes e aquele fruto de nossa
formação histórica manifestou-se de forma clara, durante a celebração em Ouro
Preto, a ponto da fala oficial ocorrer de forma quase escondida com um ato
cuidadosamente esvaziado como preparando a segunda condenação de Tiradentes.
Esta tentativa de impor
uma segunda condenação, todavia, ocorre em momento posterior a concretização da
soberania política exigindo, por parte de seus defensores, uma profunda
alteração cultural incluindo a transformação da estrutura jurídica.
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