INTERVENÇÃO
NO DOMÍNIO
ECONÔMICO E DIREITOS SOCIAIS
Wladmir
Coelho
Em 2017, segundo dados da
Fundação Getúlio Vargas, existia um déficit de 7,78 milhões de moradias no
Brasil atingindo, principalmente, aquelas famílias que sobrevivem com até 3
salários mínimos.
Os números assustam ainda
mais quando verificamos uma pesquisa da Fundação João Pinheiro de 2015
revelando o comprometimento de 30% da renda de 3 milhões de famílias
brasileiras com o pagamento de aluguel.
O desemprego de 13 milhões
de brasileiros somados aos 28 milhões de subempregados, o aumento de 8,32% nos
últimos 12 meses do Índice Geral de Preço Mercado (IGP-M), utilizado como
referência nos reajustes dos aluguéis, revelam o quanto ainda pode aumentar o dito
déficit habitacional no Brasil.
O Estado brasileiro,
enquanto isso, é afastado definitivamente do processo para a solução do
problema habitacional preferindo, o governo, radicalizar o discurso do livre
mercado abandonando, inclusive, o principal programa de financiamento de
moradias o Minha Casa Minha Vida.
Neste sentido devemos
recordar a determinação constitucional que classifica como direitos sociais,
dentre outros, a moradia e o emprego existindo neste caso a necessária execução
de um planejamento e consequente plano econômico prevendo e criando os meios
necessários para sua efetivação.
Os atos governamentais, ao contrário,
apresentam-se no sentido de total desrespeito aos princípios legais incluindo
declarações e ações de fundo ideológico em total desacordo com a Constituição.
Neste sentido o Sr. Jair
Bolsonaro afirmou, durante a solenidade de assinatura da
medida provisória da “Liberdade Econômica”, e o jornal Valor Econômico publicou,
um trecho ilustrativo do momento esquizofrênico no qual encontra-se mergulhado
o Brasil: “o linguajar meu, de tirar o Estado do cangote [do cidadão], foi
traduzido agora por essa equipe econômica maravilhosa e a Casa Civil, que vai
ajudar muita gente no Brasil.”
Esta história do Estado
no “cangote” necessita de uma tradução; não existe nesta fala do Sr. Bolsonaro a
mínima preocupação com o cumprimento das determinações constitucionais de garantia
a plena efetivação dos direitos sociais, ao contrário, temos o discurso de
favorecimento do capital em detrimento do social.
A negligência do governo
transfere para as ditas leis do mercado as condições de acesso, por exemplo, a
moradia restringindo ou mesmo proibindo aos trabalhadores um direito previsto na
Constituição.
Em termos reais o “cangote”
do capital será aliviado enquanto o “lombo” do trabalhador será surrado diante
da proibição de qualquer restrição, por parte das autoridades econômicas, na
liberdade de definição empresarial no preço de produtos e serviços, como
consequência de alterações da oferta e da demanda no mercado não regulado,
ressalvadas as situações de emergência ou calamidade pública conforme
determinado no III do artigo 3º da medida provisória da “Liberdade Econômica.”
Neste ponto entendemos a
aliança entre o neoliberalismo com o medievo fundamentalismo religioso, cujo
resultado denomina-se bolsonarismo, no qual somente o armagedon justifica a
intervenção do Estado no domínio econômico.
Este fanatismo neoliberal
vai produzindo em nosso berço esplendido e mundo afora as terríveis consequências
diariamente observadas nas ruas das cidades com visível aumento da população
sem casa.
Nos Estados Unidos, pátria
dos atuais governantes militares e civis do Brasil, os bairros considerados
nobres observam um aumento de acampamentos de sem casa incluindo o uso dos
jardins das mansões de Los Angeles enquanto os moradores de San Francisco
reclamam da quantidade de fezes humanas nas ruas.
Meio milhão de sem casa
encontram-se nas ruas da matriz segundo o site de informações para o mercado
Zero Hedge revelando ainda o quanto as notícias de crescimento econômico dos
Estados Unidos merecem uma verificação mais aprofundada.
A pequena – mental e
estrutural – burguesia brasileira deveria atentar para estes números e fatos
originários da matriz e perceber que os ricos de lá possuem condições de
transferir suas nobres residências para pontos mais tranquilos enquanto a dita
classe média de nosso torrão amado vai perdendo sua varanda gourmet em função
do desemprego, atrasos nas prestações e juros elevadíssimos dos bancos contribuindo,
deste modo, para o aumento no índice daqueles sem casa ou, na melhor das hipóteses,
dependentes da casa de parentes ou do pagamento de aluguel.
O discurso neoliberal bolsonarista
turvou, durante algum tempo, as condições de análise de muitos e proporcionou
uma terrível campanha contra os direitos sociais e a necessária intervenção do Estado
na economia para criar os meios necessários à sua aplicação.
A realidade vai revelando
o quanto eram falsas as promessas neoliberais de um mundo maravilhoso após a
entrega da Petrobras e mesmo do fim dos direitos trabalhistas como forma de superar
o desemprego.
Na realidade a entrega da
Petrobras a sanha do mercado comprometeu os meios para utilizar o poder
econômico decorrente da exploração petrolífera para financiar políticas de
habitação, educação e saúde.
Agora surgem estes mesmos
farsantes neoliberais do governo prometendo o paraíso com a submissão total de
nossa economia ao domínio sem regras do capital entregando ao povo um país de
fome, ignorância e privilégios aos ricos.
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