Escuta Educativa - Programa da Rádio Educare.47 do Instituto de Educação de Minas Gerais

domingo, 12 de maio de 2019

AS CONTRADIÇÕES DO MODELO UBER Wladmir Coelho




AS CONTRADIÇÕES DO MODELO UBER

Wladmir Coelho

A estreia da Companhia UBER no mercado de ações, no último dia 10, apresentou resultados bem abaixo das expectativas de seus controladores amargando, o valor dos papéis, uma queda de 8% ao longo do dia revelando um dos piores desempenhos de uma empresa estreante na bolsa.

O anúncio da oferta pública das ações da companhia UBER foi antecedido de vibrantes comentários e elogios à ideologia da organização cujo modelo de relação com os trabalhadores, eufemisticamente denominados de colaboradores, foi saudado pelos modernos de plantão como o “futuro do trabalho.”

A uberização do trabalho, fenômeno verificado a partir das plataformas digitais, vai criar os meios para extinguir definitivamente o emprego formal associado este a “burocracia” e ausência de liberdade empresarial em função de limites estabelecidos através das legislações trabalhistas; repetiam os neoliberais em palestras, livros, vídeos e noticiário em geral.

Regozijavam-se os escravocratas do Vale do Silício com o fim da assistência médica, salário mínimo e outros fatores de limitação da livre ação da mão invisível anunciando um novo significado para a organização do trabalho.

Enquanto isso a economia apresentava-se de forma cruel: segundo a revista In These Times a realidade não corresponde a expectativa ficando o setor de plataformas de serviço responsável por apenas 1% do total da mão de obra empregada nos Estados Unidos.

Tratando em termos práticos a ideologia neoliberal, com seu cada um por si, repete insistentemente o mantra da incompetência estatal clama por liberdade plena, contudo os capitalistas não conseguem sobreviver sem o apoio ou controle definitivo do Estado.

Vejamos o caso do emprego nos Estados Unidos; naquele país os grandes empregadores encontram-se associados ao Estado e claramente dependentes do setor militar existindo somente na indústria bélica - cujo funcionamento depende diretamente da contratação para fabricação de tanques, navios, aviões e outros - 2,4 milhões de trabalhadores. 

A presença do Estado no setor econômico agiganta-se quando verificamos os 3,2 milhões de funcionários civis e militares empregados no Departamento de Defesa que segundo a revista Forbes representa o maior empregador do mundo.

O Departamento de Estado apresenta-se ainda como o maior comprador individual de petróleo do mundo garantindo, de forma incontestável, o emprego para aproximadamente 5.6% da mão de obra ativa dos Estados Unidos segundo o American Petroleum Institute.

Estes números do setor petrolífero explicam, em grande parte, a obsessão estadunidense em impor o seu entendimento particular de democracia aos países produtores de petróleo estejam estes na América do Sul, na Ásia ou em qualquer outro ponto do planeta.

Retomando o fato UBER; a folha de São Paulo apontou como causa da frustração com as ações da companhia a dependência “de um influxo generoso de capital privado para bancar a expansão acelerada e a concorrência feroz em que estão envolvidas.”  

A clara tradução do fracasso, ao verificarmos a justificativa da Folha de São Paulo, encontra-se exatamente na diferença entre o discurso e a prática neoliberal cultuado e defendido nos grandes veículos de comunicação e repetido por governantes militares e civis do Brasil, ou seja, o capitalismo não tolera riscos, detesta a concorrência e precisa desesperadamente da presença do Estado para sobreviver.

O modelo UBER vai perdendo ainda mais de sua sedução neoliberal diante da insatisfação de seus “colaboradores” com a ausência de regras trabalhistas e devemos recordar que esta desregulamentação constitui a base para a continuidade da companhia.

Cisões no modelo verificam-se através da organização dos motoristas em sindicatos e associações para exigir a regulamentação trabalhista destacando-se a recente greve mundial dos motoristas de UBER somados a conquista de um rendimento mínimo (uma espécie de salário mínimo) em Nova York.

A reforma trabalhista no Brasil seguiu exatamente o modelo UBER e durante a campanha eleitoral seu aprofundamento foi claramente proposto pelo candidato direitista que defendeu abertamente o fim do que denominou de privilégios da classe trabalhadora apoiado por seu vice general um defensor radical da extinção do 13º salário.

As oligarquias capitalistas, o famoso 1%, revelam-se famintas pela ampliação do controle dos recursos estatais e para este fim atacam sem piedade os direitos sociais. O Brasil, neste momento, é atacado de forma violenta através de ações que incluem desde a extinção da educação pública a destruição dos serviços estatais de saúde.

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