AS
CONTRADIÇÕES DO MODELO UBER
Wladmir
Coelho
A estreia da Companhia
UBER no mercado de ações, no último dia 10, apresentou resultados bem abaixo
das expectativas de seus controladores amargando, o valor dos papéis, uma queda
de 8% ao longo do dia revelando um dos piores desempenhos de uma empresa
estreante na bolsa.
O anúncio da oferta
pública das ações da companhia UBER foi antecedido de vibrantes comentários e
elogios à ideologia da organização cujo modelo de relação com os trabalhadores,
eufemisticamente denominados de colaboradores, foi saudado pelos modernos de
plantão como o “futuro do trabalho.”
A uberização do trabalho,
fenômeno verificado a partir das plataformas digitais, vai criar os meios para
extinguir definitivamente o emprego formal associado este a “burocracia” e
ausência de liberdade empresarial em função de limites estabelecidos através
das legislações trabalhistas; repetiam os neoliberais em palestras, livros,
vídeos e noticiário em geral.
Regozijavam-se os escravocratas
do Vale do Silício com o fim da assistência médica, salário mínimo e outros
fatores de limitação da livre ação da mão invisível anunciando um novo
significado para a organização do trabalho.
Enquanto isso a economia apresentava-se
de forma cruel: segundo a revista In These Times a realidade não corresponde a
expectativa ficando o setor de plataformas de serviço responsável por apenas 1%
do total da mão de obra empregada nos Estados Unidos.
Tratando em termos
práticos a ideologia neoliberal, com seu cada um por si, repete insistentemente
o mantra da incompetência estatal clama por liberdade plena, contudo os
capitalistas não conseguem sobreviver sem o apoio ou controle definitivo do
Estado.
Vejamos o caso do emprego
nos Estados Unidos; naquele país os grandes empregadores encontram-se
associados ao Estado e claramente dependentes do setor militar existindo
somente na indústria bélica - cujo funcionamento depende diretamente da
contratação para fabricação de tanques, navios, aviões e outros - 2,4 milhões
de trabalhadores.
A presença do Estado no
setor econômico agiganta-se quando verificamos os 3,2 milhões de funcionários
civis e militares empregados no Departamento de Defesa que segundo a revista
Forbes representa o maior empregador do mundo.
O Departamento de Estado
apresenta-se ainda como o maior comprador individual de petróleo do mundo
garantindo, de forma incontestável, o emprego para aproximadamente 5.6% da mão
de obra ativa dos Estados Unidos segundo o American Petroleum Institute.
Estes números do setor
petrolífero explicam, em grande parte, a obsessão estadunidense em impor o seu
entendimento particular de democracia aos países produtores de petróleo estejam
estes na América do Sul, na Ásia ou em qualquer outro ponto do planeta.
Retomando o fato UBER; a
folha de São Paulo apontou como causa da frustração com as ações da companhia a
dependência “de um influxo generoso de capital privado para bancar a expansão
acelerada e a concorrência feroz em que estão envolvidas.”
A clara tradução do
fracasso, ao verificarmos a justificativa da Folha de São Paulo, encontra-se
exatamente na diferença entre o discurso e a prática neoliberal cultuado e
defendido nos grandes veículos de comunicação e repetido por governantes
militares e civis do Brasil, ou seja, o capitalismo não tolera riscos, detesta
a concorrência e precisa desesperadamente da presença do Estado para
sobreviver.
O modelo UBER vai
perdendo ainda mais de sua sedução neoliberal diante da insatisfação de seus
“colaboradores” com a ausência de regras trabalhistas e devemos recordar que
esta desregulamentação constitui a base para a continuidade da companhia.
Cisões no modelo
verificam-se através da organização dos motoristas em sindicatos e associações
para exigir a regulamentação trabalhista destacando-se a recente greve mundial
dos motoristas de UBER somados a conquista de um rendimento mínimo (uma espécie
de salário mínimo) em Nova York.
A reforma trabalhista no
Brasil seguiu exatamente o modelo UBER e durante a campanha eleitoral seu
aprofundamento foi claramente proposto pelo candidato direitista que defendeu
abertamente o fim do que denominou de privilégios da classe trabalhadora
apoiado por seu vice general um defensor radical da extinção do 13º salário.
As oligarquias capitalistas,
o famoso 1%, revelam-se famintas pela ampliação do controle dos recursos
estatais e para este fim atacam sem piedade os direitos sociais. O Brasil,
neste momento, é atacado de forma violenta através de ações que incluem desde a
extinção da educação pública a destruição dos serviços estatais de saúde.
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