O
FÓRUM PARA O PROGRESSO DA
AMÉRICA DO SUL
Wladmir
Coelho
Reunidos na capital
chilena oito presidentes sul-americanos oficializaram a criação do Fórum para o Progresso da América do
Sul (PROSUR) agregando, este novo organismo, os seguintes países: Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru.
Ao final do encontro de
três horas os mandatários assinaram uma declaração de seis pontos apresentando,
de forma genérica, a disposição destes em promover o progresso e o desenvolvimento
da América do Sul, a criação dos os meios necessários ao funcionamento do
PROSUR.
A declaração ainda apresenta
como condição para filiação ao grupo a plena vigência da democracia, da ordem
constitucional, o respeito ao principio da separação dos poderes do Estado, a
promoção, proteção, respeito e garantia aos direitos humanos e liberdades fundamentais
assim como a soberania e integridade territorial dos Estados conforme o direito
internacional.
Ausência
da Venezuela
Este último ponto da
declaração foi utilizado pelo anfitrião, Sebastián Piñera, como justificativa ao
veto dos organizadores a participação do governo venezuelano no evento
preferindo estes o envio de convite ao autoproclamado presidente daquele país
aspecto no mínimo curioso considerado o zelo com a ordem constitucional e
respeito ao direito internacional registrado no documento em questão.
O discurso em defesa das
liberdades, direitos humanos e separação entre poderes, como é de amplo
conhecimento, não encontram receptividade no governo Duque conforme recente
alerta da ONU a respeito do elevado número de assassinatos de defensores dos
direitos humanos somado a recusa presidencial em avançar com a aprovação da
regulamentação da “Jurisdicción Especial para la Paz” (JEP) órgão de justiça
criado a partir do acordo de paz com a guerrilha.
Iván Duque, como podemos
observar, chefia um governo acusado de desrespeito aos direitos humanos e no
caso da JEP revela-se ainda nítido o desprezo a independência entre os poderes
considerando as dificuldades criadas ao funcionamento do tribunal em questão.
A presença do representante
brasileiro no seleto grupo de governantes defensores dos direitos humanos
também chama a atenção considerando a conhecida posição do Sr. Jair Bolsonaro a
respeito do tema.
Posição esta confirmada
durante encontro com empresários chilenos, amplamente divulgado através da
imprensa, no qual o capitão reformado afirma defender a extinção dos direitos
trabalhistas e consequente elevação do nível de informalidade nas relações de
emprego revelando as intenções oficiais de aprofundamento da exploração do
trabalho distanciando-se o Brasil da proteção necessária do trabalhador.
A
ideologia do PROSUR
As contradições do PROSUR não ficam resumidas
à defesa dos direitos humanos, independência entre os poderes e respeito as
regras do Direito Internacional. Ao longo do encontro o discurso predominante
dizia respeito a condição não ideológica do grupo.
Para entender os reais
interesses basta uma simples análise dos discursos e práticas dos governantes
presentes revelando-se com facilidade a filiação destes a defesa do Estado
submetido aos interesses mercadológicos priorizando, todos eles, a adoção de
práticas conhecidas como “austeridade” nas quais os direitos sociais perdem
importância diante da prioridade oferecida ao pagamento dos juros exigidos
através do sistema bancário internacional.
No Peru, por exemplo, verifica-se
a expulsão e assassinato de indígenas das áreas agora ocupadas por mineradoras
enquanto no Brasil uma empresa do mesmo setor destrói o meio ambiente e mata
centenas de pessoas diante da passividade do Estado.
No Chile idosos cometem suicídio
em função do desamparo previdenciário, enquanto na Argentina o número de
miseráveis aumenta assustadoramente em função das políticas econômicas de base
mercadológica.
O PROSUR, assim podemos
concluir, reúne os governantes da América do Sul associados a ideologia neoliberal
cuja prática verifica-se exatamente no desrespeito ao cumprimento dos direitos
humanos.
Afinal
o que é o PROSUR?
O PROSUR constituí a negação
ao projeto de integração e desenvolvimento da América do Sul presente nos fundamentos
e ações da UNASUR (União de Nações Sul-Americanas) voltados à superação do
modelo de exploração imperialista.
O projeto da UNASUR contempla
a estruturação dos meios necessários à pesquisa e desenvolvimento de propostas
comuns aos países membros em doze áreas considerando, inclusive, a energia,
infraestrutura, pesquisa, educação, defesa.
Assim enquanto o PROSUR
apresenta como programa seis pontos gerais e sem o mínimo de aprofundamento a
UNASUR revela todo um caminho para a integração dos países sul-americanos com
base no domínio tecnológico, autossuficiência, melhoria do processo educativo e
principalmente na criação de um projeto de emancipação econômica e política.
O chamado PROSUR, ao
contrário, não apresenta uma proposta clara em termos estruturais e sua
criação, quando analisados os discursos de seus fundadores, ocorreu com o propósito
de enfraquecer a UNASUR criando os meios para a hegemonia do discurso de
integração automática dos países sul-americanos aos interesses mercadológicos traduzido
nas ações de abertura ao capital estadunidense.
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