NACIONALISMO
E PETRÓLEO
Wladmir
Coelho
A campanha contra a
Petrobras revela em seus fundamentos uma série de preconceitos repetidos desde
o final do século XIX. Estes preconceitos apresentam-se nos meios de
comunicação revestidos de números, exemplos e vocabulário refinado sempre
condenando as iniciativas nacionalistas confundidas ou transformadas em
populismo entendido este como sinônimo de irresponsabilidade política e econômica.
O vocabulário e as
práticas econômicas defendidas na grande mídia originam-se do pensamento
liberal radicalizado no modelo neoliberal de nossos dias. Neste discurso é
negada a existência de um sistema econômico nacional e considerado pecado
mortal a intervenção do Estado na economia.
Nacionalismo
econômico
No século XIX o
economista alemão Friedrich List observou como mola do crescimento econômico
dos Estados Unidos exatamente a forte presença do Estado na economia seja
subsidiando ou protegendo a iniciativa nacional. List, ao contrário dos
liberais clássicos, entendeu e defendeu a existência do sistema econômico
nacional como base do crescimento econômico.
Este sistema econômico
nacional seria amparado no conceito de nação ideal, defendido por List, cujo
principio aplicava-se perfeitamente aos Estados Unidos segundo as observações
do economista alemão. Nação ideal, entendia List, seria aquela com pleno controle
das fontes de energia, alimentação e existência de um mercado interno em
condições de manter a economia.
Acrescentava List a
necessidade de apoio dos países mais desenvolvidos aos mais atrasados como
forma, inclusive, de garantir a paz. O neoliberalismo de nossos dias defende
exatamente o contrário ao dividir o mundo entre fornecedores de matéria prima e
consumidores de tecnologia.
A
ficção neoliberal
No caso do petróleo devemos
observar, inclusive, a conversão de países considerados desenvolvidos, vide o
caso do Canadá, em fornecedores de matéria prima. A situação do Canadá é
assustadora aumentando este país a sua dependência dos Estados Unidos em função
da venda de petróleo bruto.
A negativa da
existência do sistema econômico nacional criou a verdade neoliberal entendendo
qualquer alternativa ao modelo vigente como falsa economia ou não ciência.
Reforçou-se a ficção na
qual existe um mercado controlado por forças naturais ou mágicas cujo motor
encontra-se na livre concorrência. Elegeram-se sábios com total conhecimento da
economia de ficção cuja função diária é reforçar a superstição e punir os
eventuais hereges.
Um exemplo: Decorrente
do sistema econômico nacional temos o nacionalismo econômico base do chamado
Estado de bem estar social. Este modelo econômico ganhou força na Europa do pós-guerra
principalmente na França, Inglaterra, Alemanha.
Todavia, desde o agravamento
da crise econômica em 2008, recebe este modelo ataques em nome da manutenção da
ficção econômica neoliberal preocupando-se os governos com o pagamento dos
juros aos banqueiros em detrimento dos interesses dos trabalhadores.
Para o pagamento destes
juros determinam-se as chamadas políticas de austeridade representadas no corte
de benefícios sociais, no consumo e aumento do desemprego. Neste ponto podemos
observar que o Estado de bem estar social não resultou na derrota ou
desaparecimento dos interesses do poder econômico.
Neste modelo a
iniciativa privada continuou existindo e foi claramente permitida uma ampliação
do poder do sistema financeiro através das múltiplas fusões e desregulamentação
dos chamados mercados. Entre a ampliação do lucro e manutenção de direitos
sociais optaram os governos europeus pelo primeiro. Temos aqui uma clara
distinção entre Estado de bem estar social e socialismo.
Políticas
nacionalistas na América do Sul
Na América do Sul não
foram poucas as tentativas de implantação de políticas econômicas
nacionalistas. Sempre combatidas com violência pelos grandes grupos
internacionais estas iniciativas não conseguiram implantar as transformações
sociais verificadas na Europa.
No Brasil, a partir de
1930, inicia-se a modernização do Estado priorizando a regulamentação de
setores da economia e oficializando direitos trabalhistas. Neste período o petróleo
recebeu especial atenção através da criação de uma legislação própria – a
partir de 1934 – efetivando-se o pleno controle estatal deste mineral quase
duas décadas depois – 1953- com a criação da Petrobras.
A tentativa de
aprofundamento de uma política econômica nacionalista nos anos 60, durante o
governo João Goulart, resultou na oposição dos Estados Unidos e consequente
introdução de uma ditadura militar cujo principal objetivo foi desnacionalizar
a economia incluindo a quebra do monopólio do petróleo através da introdução do
contrato de risco e desvio da Petrobras para o chamado mundo do mercado.
Durante o mesmo período
vamos verificar exemplos semelhantes na Argentina, Venezuela, Bolívia sempre
seguidos de golpes de Estado financiados através de empresas e governo dos
Estados Unidos.
O
Bolivarianismo
Atualmente a Venezuela,
através do Bolivarianismo, representa um modelo de nacionalismo econômico direcionado
para a implantação de um Estado de bem estar social.
O modelo econômico
venezuelano encontra-se embasado no maior controle estatal do bem econômico
petróleo utilizando este para o financiamento dos programas de assistência
social, educação, pesquisa, defesa e criação de empresas publicas ou privadas
nos diferentes setores da economia.
A Bolívia possui um
modelo semelhante e consegue, igual à Venezuela, elevar determinados índices
sociais notadamente aqueles relativos a pobreza absoluta, alfabetização e
assistência médica.
Romper com o modelo
neoliberal não constitui tarefa fácil. As elites políticas e econômicas da
América Latina sobrevivem, desde o século XV, associadas aos interesses
exportadores.
A base colonial de
nossa economia possibilita a vida de luxo dos senhores de terras, eufemicamente
tratados por empresários do agronegócio, dos executivos de multinacionais
diversas que condenam os países a condição de montadores em prejuízo do
desenvolvimento de uma tecnologia própria.
Estes senhores adotam,
inclusive, o discurso do auxílio do mais rico ao mais pobre através da
mitificação e mistificação do termo investimento externo confundido este com a
necessidade de ampliação da exploração da mão de obra (incluindo a escravidão)
e pleno acesso aos recursos da natureza sem a mínima preocupação com as
consequências tenha esta a forma de falta d’água e destruição do meio ambiente.
Nacionalismo
à brasileira
Enquanto a grande
imprensa condena as ações sociais dos últimos 12 anos no Brasil os governos
Lula e Dilma Rousseff tornaram-se mestres em manipular o vocabulário
nacionalista escondendo as reais intenções neoliberais.
No discurso frases em
defesa da Petrobras incluindo a falsa afirmativa da manutenção de sua condição
estatal. Na prática provoca-se a asfixia da empresa forçando uma associação em
desvantagem com os oligopólios de sempre.
Desta encenação a
Petrobras tornou-se a principal vítima ao manter, o governo, a fórmula iniciada
durante a ditadura e aprofundada no governo Fernando Henrique Cardoso.
Lula e Dilma Rousseff
não recuperaram a Petrobras para a sua função de garantir a autossuficiência
nacional mantendo o mito da 8ª irmã iniciado durante a ditadura. A imprensa com
sua linguagem neoliberal utiliza a velha e corroída luta moralista aproveitando
para acabar de vez com qualquer possibilidade da Petrobras assumir o seu
verdadeiro papel.
Quem
está dentro não quer sair, quem está fora quer entrar
A Petrobras vai
seguindo o seu caminho em meio aos ataques. Nenhuma novidade. Esforça-se
governo em seu discurso nacionalista e sua prática neoliberal defendendo a
austeridade do jeitinho que ensinou o guru da ditadura Delfim Netto.
A oposição parlamentar,
em sua maioria defensora do neoliberalismo, apropria-se do discurso moralista
contra a corrupção e ressuscita o perigo comunista, clama pela volta da
ditadura. Parece que estamos vivendo naquele samba do Sérgio Porto.
De forma indecente a grande
imprensa divulga os “perigos” da ditadura bolivarianista, mas incentiva o culto
aos tempos da ditadura militar. Todavia associam-se imprensa e governo e
oposição parlamentar neoliberal quando o assunto é austeridade econômica.
Defendem governo,
oposição neoliberal e grande imprensa a “necessidade” do aumento no valor da
energia elétrica, da água, gasolina e os cortes nos direitos dos aposentados,
viúvas e desempregados.
Escondem, todos eles,
que estas empresas de energia, água, comunicação e petróleo foram construídas
com dinheiro do povo para atender o povo. A privatização, total ou parcial
destas empresas, não implicou, para seus proprietários, novos investimentos.
Receberam tudo a preço de banana. Não admitem, todavia, uma queda em seus
lucros que devem ser direcionados aos acionistas confortavelmente instalados
nos Estados Unidos e Europa.
Vejam: Os donos do
poder desejam apagar qualquer vestígio de combate a ficção neoliberal e
transformam a crise econômica em crise moral cujo final seria o impeachment.
Esta palavra mágica, impeachment,
reúne toda espécie de oportunistas interessados em manter o Brasil em sua
condição colonial. Procuram iludir o povo percorrendo as ruas, gastam horas na
internet atacando os patriotas e divulgando vídeos de militares aposentados
defendendo a ditadura ou delirando com a invasão do Brasil por forças cubanas e
venezuelanas. Alguns, mais honestos, aproveitam para aumentar a renda familiar
vendendo Kits com camisetas e bonés.
O povo, apesar do
bombardeio midiático, pergunta aos oportunistas: E depois do impeachment?
Saindo a Dilma vamos direto ao paraíso? Conquistaremos de imediato aumentos
salariais, redução nas tarifas de ônibus, energia elétrica e a água vai voltar
a jorrar?
Em termos objetivos não
oferecem, os oportunistas, uma resposta clara. Apenas vendem ilusões a
serviço dos entreguistas e inimigos do povo com reforço da ficção neoliberal.
O trabalhador tem plena consciência da não existência
de palavras mágicas. A crise não é moral. O momento requer uma profunda
modificação no modelo econômico incluindo a ampliação de direitos dos
trabalhadores e nacionalização dos recursos necessários à manutenção econômica
nacional.
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