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PANDEMIA E AULAS ONLINE; A NEFASTA SUBMISSÃO DOS ESTADOS AOS INTERESSES DO
CAPITAL INTERNACIONAL
Por
Wladmir Coelho
1 – Em 13 de dezembro de
2017 o site do Fórum Econômico Mundial publicava um artigo prevendo para 2027 a
robotização total das escolas incluindo a categoria profissional dos
professores no rol daquelas destinadas ao desaparecimento em função do avanço
tecnológico somando esta aos médicos, jornalistas, advogados sem falar no
operariado e até motoristas de UBER substituídos por veículos autônomos.
2 – Desta previsão do fim
do trabalho físico faltou ao profeta, sir Anthony Seldon especialista em
educação da Universidade de Buckingham, explicar qual seria o sistema econômico
a surgir desta robotização total em substituição ao capitalismo amparado, como
sabemos, na exploração do trabalho físico limitando-se, o Nostradamus do século
21, a simples repetição do mantra das vantagens de possuir a educação mundial
robotizada um “professor” que não adoece, não tira licença, não precisa de
férias e outros nãos e nãos desumanizados.
3 – O artigo apresentava,
todavia, como impedimento imediato da realização da profecia do nobre inglês algumas
dificuldades no campo das relações humanas insinuando a existência de pronto
atendimento das exigências materiais e tecnológicas o mesmo discurso do
caridoso casal Bill e Melinda Gates e sua fundação lobista dos interesses,
inclusive, da educação à distância.
4 – A caridade de mr and
mrs Bill Gates tem o tamanho e o alcance do poder econômico permitindo a
presença planetária dos interesses do
pio casal – naturalmente associados aos bancos e fundos de investimentos - em padronizar o processo ensino aprendizagem a
partir dos interesses de sua Fundação envolvendo não somente o aspecto relativo
ao controle das plataformas de ensino à distância, mas ao incentivo e
patrocínio das avaliações externas e destas ao modelo de currículo escolar
sempre associado ao dito projeto de vida disfarçado, de forma colorida, ao
discurso meritocrático do cada um por si.
5 – Os Gates não ocupam
sozinhos o posto de interessados – caridosamente – em aprofundar a presença da
automação nas escolas apresentando o Google igual fúria na disputa pelo ensino
online buscando o controle da principal mercadoria do momento; as informações pessoais
dos estudantes e professores garantindo assim uma divisão do mercado
controlando os Gates os softwares ficando o segundo com os anúncios.
6 – Este tipo de divisão
de um segmento do mercado não constitui uma novidade no capitalismo e funciona
a partir de um acordo entre os grandes grupos e podemos encontrar exemplos desde
o setor financeiro – funcionando como espécie de liga da concentração de
mercado - até a indústria petrolífera
assumindo estes oligopólios funções de controle nas respectivas políticas econômicas
dos países notadamente aqueles mais atrasados impedindo o desenvolvimento de
tecnologias nacionais adotando a prática de importação daqueles cientistas com
maior potencialidade funcionando neste ponto o controle das atividades escolares
como espécie de agência de seleção.
7 – No Brasil a estrutura
para adaptação da educação aos interesses do capital monopolista foi
aprofundado a partir da Lei 13415/17 responsável pela reforma do ensino médio e
toda legislação educacional posterior amparada no projeto de diminuição do
tempo presencial do aluno na escola permitindo o total de até 20% do tempo do
ensino médio diurno para o ensino à distância, 30% do ensino médio noturno e
80% na Educação de Jovens e Adultos (EJA) isso acrescido da redução da Base
Nacional Comum Curricular para 1800 horas anuais criando ainda 1200 horas
anuais para cumprimento, inclusive, fora das escolas.
8 – Coincidentemente, a
partir do ano de 2017, registrou-se farta aquisição de editoras de livros
didáticos e escolas, inclusive, de ensino médio através da antiga Kroton Educacional
atual Cogna apresentada na revista Exame em 7 de abril último como beneficiária
deste momento de fechamento das escolas – de ensino básico e superior – apesar do
risco de inadimplência considerando sua experiência no ensino à distância: “com
os alunos em casa, a empresa está abrindo essa opção para as escolas e depois
poderá aproveitar esse canal para oferecer novos produtos e serviços.”
9 – Em termos práticos a
reportagem em questão apenas esclarece a condição de bola da vez no mercado
acionário das empresas de educação à distância direcionando para este setor o
grande capital representado nos fundos de investimentos internacionais surgindo
ao mesmo tempo – pura coincidência - um
discurso oficial pautado na “defesa da educação” dos pobres aspecto a ser
abordado mais adiante no presente artigo.
10 – A crise econômica
detonada a partir da pandemia do COVID-19 contribuiu para a aceleração do
processo de introdução do modelo de ensino a distância sempre conduzido pelo
discurso caridoso pronunciado com voz macia, mas ocultando os reais interesses
econômicos dos bancos e fundos de investimentos internacionais cuja voracidade
faz incorporar em todo o planeta, aos respectivos patrimônios, trilhões de
dólares incluindo no Brasil – através da emenda constitucional do Orçamento de
Guerra – o poder de suspender o vinculo constitucional da educação ficando o
Estado brasileiro proibido de retirar um centavo do montante destinado ao pagamento dos juros da dívida pública.
11 – Somado a propensão
dos estados em doar os recursos dos trabalhadores aos grandes grupos
financeiros temos ainda o discurso do direito à educação transformado em forma
de aumento destas doações através de uma inesperada preocupação dos governos
capitalistas em garantir o acesso das crianças e jovens ao conteúdo escolar
durante o período de isolamento e deste o fechamento das escolas em todo o
planeta criando, eis a resposta ao inesperado surto de defesa da educação dos
governantes capitalistas, um mercado de pelo menos um bilhão de pessoas segundo
levantamento da UNESCO.
12 – Aproveitando esta
oportunidade de negócios o Goldman Sachs recomenda aos seus clientes
milionários o investimento em empresas do setor de tecnologia em ensino à
distância experimentando estas, aumentos consideráveis nos valores de suas
ações algumas, segundo os avaliadores do Goldman, prometendo valorização de até
50% nos próximos 12 meses.
13 – Este otimismo do
setor financeiro global, todavia, não está amparado na entrega efetiva de um
produto – o ensino online – de forma ampla aos estudantes independente da
localização geográfica, classe social, acesso à internet e equipamentos
necessários a concretização do processo ensino aprendizado pago com recursos estatais existindo de forma evidente uma farsa
para possibilitar a transferência de recursos da educação pública aos tubarões
do sistema financeiro internacional pagando, naturalmente, as comissões de
costume aos intermediários.
14 – O Banco Mundial, em
recente relatório, confirma esta situação ao informar que “A transição para o aprendizado on-line em
escala é uma tarefa muito difícil e altamente complexa para os sistemas
educacionais e mesmo em condições não emergenciais poucos (se houver) sistemas
de ensino, incluindo aqueles de melhor desempenho, estão bem equipados para
oferecer o ensino on-line.”
15 – O relatório ainda
aponta o elevado custo para a criação e manutenção da estrutura necessária ao
funcionamento pleno do ensino online acrescido este do necessário preparo dos
professores envolvidos no processo e mesmo existindo esta estrutura de
transmissão ficam ainda questões relacionadas a equidade existindo o risco de
beneficiarem-se somente aqueles estudantes pertencentes aos grupos sociais em
condições de pagar o acesso à internet e compra do equipamento necessário ao
aprendizado.
16 – A limitação do acesso
á internet levou diferentes universidades públicas do Brasil a não adotar as
chamadas aulas online para os estudantes da graduação e destas encontram-se incluída
a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG - entendendo os conselheiros da
Câmara de Graduação as limitações quanto a equidade afirmando: “[a] heterogeneidade
do corpo discente da UFMG não permite garantir que todos terão acesso frequente
e estável aos recursos computacionais necessários para acompanhamento das
atividades.”
17 – A dificuldade
observada nas condições dos estudantes da UFMG não difere daquela apontada
através dos estudos da Telecommunication Development Sector – ITU – revelando a
existência de 41% da população mundial sem acesso à internet enquanto 51% não
possui computadores dependendo estes de estabelecimentos como bibliotecas
públicas para entrarem em suas contas aspecto agravado nas populações das
periferias e rurais sem nenhuma possibilidade.
18 – Devemos ainda
observar que o acesso à internet de banda larga – necessária para a melhor
fluidez e desenvolvimento das propostas de ensino online – depende do poder
aquisitivo do usuário restrito, no caso brasileiro segundo a Agência Nacional
de Telecomunicações ANATEL em 2019, ao número de 31,69 milhões de residências,
ou seja, menos da metade do total.
19 - A pressa dos
governos em estabelecer, em função da pandemia do COVID-19, o ensino online
longe de atender aos interesses educacionais dos trabalhadores revela o elevado
grau de contaminação entre os interesses do capital privado e aqueles
responsáveis pela administração pública ambos preocupados em encontrar os meios
para a salvação de um modelo econômico comprovadamente injusto e doente.
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