O
PETRÓLEO LATINO-AMERICANO:
O
BRASIL E A VENEZUELA
Wladmir
Coelho
A campanha contra a
Petrobras concentra seus argumentos na incapacidade de uma empresa controlada pelo
Estado em oferecer resultados satisfatórios entendendo como restritivo ao livre
comércio a existência do monopólio estatal do petróleo conforme era previsto na
Lei 2004 de 1954 responsável pela criação da petrolífera.
Neste caso precisamos observar
que os defensores da livre concorrência como fator de harmonia econômica
simplesmente ignoram o período de 43 anos (1891 a 1934) no qual a Constituição
brasileira simplesmente garantiu ao proprietário do solo o controle do subsolo
oferecendo, deste modo, a qualquer interessado privado, nacional ou
estrangeiro, a exploração direta de qualquer recurso mineral.
O escritor Monteiro
Lobato legou à história, através de sua prática empresarial e jornalística, vastíssimo
material relativo ao entendimento do quando é falso o principio da livre
concorrência no setor petrolífero.
Lobato em seu livro, o
Escândalo do Petróleo e do Ferro, relata a prática dos trustes estadunidenses,
neste caso a Standard Oil, em adquirir grandes áreas com potencial produtivo no
Brasil e impedir, com base no direito de propriedade do subsolo, a pesquisa e exploração
petrolífera.
O escritor e outros empresários
ousaram enfrentar o truste e perceberam nos ataques que recebiam através da imprensa
o quanto era fantasioso ou mítico a defesa da livre concorrência.
O poder econômico dos
trustes contra a iniciativa nacional de exploração petrolífera manifestava-se a
partir do mínimo movimento no sentido de criação de uma empresa, geralmene através
da venda de cotas, quando os jornais acusavam os empresários nacionalistas de
desonestos, vendedores de ilusão e os comparavam aos golpistas do século XIX
nos Estados Unidos.
Os ataques eram
desferidos a partir, inclusive, de relatórios de geólogos da própria Standard
Oil afirmando a inexistência de petróleo em território brasileiro mesmo observando-se
extensas áreas com afloramento do mineral.
Superados os primeiros
ataques diferentes companhias nacionais foram criadas todas elas pequenas,
isoladas e com grandes dificuldades em iniciar as pesquisas considerando o
elevado valor dos materiais necessários somados ao controle estadunidense da
tecnologia fator que associava a exploração petrolífera a política dos trustes
localizados naquele país regulamentando assim a exportação dos equipamentos
necessários a exploração petrolífera.
Na Venezuela a
preocupação em proteger o patrimônio mineral encontra-se desde o decreto assinado
por Simon Bolívar, em 1829, transferindo do Rei à República a propriedade do
subsolo restringindo a exploração deste à autorização estatal.
Devemos aqui observar a
maior presença do petróleo e sua importância no comércio mundial a partir do
século XX ficando o seu modelo de exploração associado a conquista de vastas
áreas, através de ocupação militar, notadamente em obediência ao projeto imperialista
dos Estados Unidos e Inglaterra.
No caso venezuelano não vamos
observar a ocupação militar, mas a subordinação total aos interesses das empresas
estadunidenses interessadas em exportar o petróleo da América do Sul para o
abastecimento em seu território.
Este modelo somente será
rompido em 1988 quando a nova constituição estabelece não somente a propriedade
do bem natural petróleo, mas cria os meios para a utilização do poder econômico
decorrente de sua exploração em beneficio da economia nacional tornando este um
assunto de segurança nacional.
As empresas estrangeiras,
instaladas na Venezuela, perdem a condição de impor ao país a política
econômica privada passando a submeter-se ao planejamento econômico nacional regulamentado
através dos planos para exploração de petróleo observadas as metas de produção,
preços e quantidade destinada ao consumo interno.
A Petróleos de Venezuela
(PDVSA) assume a condição de empresa estatal e somente a partir de seu
direcionamento as empresas privadas podem participar do processo exploratório
considerando a criação de empresas mistas controladas através da primeira.
Observa-se, neste caso, a
inexistência de proibição à participação de empresa privada nacional ou
estrangeira no processo de exploração petrolífera na Venezuela. A novidade está
na forma de controle e regulamentação desta participação na qual preserva-se o
interesse nacional e propriedade do bem natural e econômico.
Um modelo semelhante foi
proposto nos anos de 1950, no Brasil, durante os debates para a criação da
Petrobras. Trata-se da Tese Mineira do Petróleo de autoria do professor da
Faculdade de Direito da atual UFMG, Washington Albino, aprovada durante
encontro das Federações Comerciais de Minas Gerais.
Neste ponto fica evidente
o caráter nacionalista das propostas nas quais para o Estado fica a função de
elemento em condição de proporcionar os meios econômicos necessários ao
rompimento do modelo de base colonial possuindo este, inclusive, os
instrumentos para regulamentar a presença do capital estrangeiro e seus limites
de atuação.
Para completar devemos
observar tratar-se o chamado mercado petrolífero mundial do setor extremamente
concentrado e basicamente divididos entre as duas maiores estatais chinesas e 4
ou 5 empresas privadas dos Estados Unidos.
Neste caso livre
concorrência revela-se na garantia do controle ou criação das condições necessárias
a participação das empresas estadunidenses na exploração mundial de petróleo
garantindo a presença dos interesses deste país em sua atual disputa com a
China limitando o acesso desta aos países produtores.
O elemento petróleo está
presente em praticamente todas as guerras do século XX e seu peso no atual
ataque dos Estados Unidos à Venezuela não pode ser desprezado, sobretudo quando
verificamos como principal objetivo do títere Juan Guaidó o fim da legislação
nacionalista da venezuelana e entrega das áreas para exploração aos grandes
grupos estadunidenses.
No Brasil o processo em
apoio aos Estados Unidos e contrário a soberania da Venezuela recebe apoios de
sempre e marcha no sentido de destruição de um projeto de superação do modelo
colonial da mesma forma observada nas diferentes campanhas contra a Petrobras.
O atual governo
brasileiro, predominantemente militar, nega a importante conquista histórica
sintetizada na Petrobras e submete-se ao discurso mítico da livre concorrência negando
ao país a mínima preocupação com sua soberania energética e consequente manutenção
ou criação das bases de uma política econômica voltada aos interesses nacionais
além de descumprir o principio constitucional de unidade dos países latino-americanos.
Complementando o risco à
segurança energética nacional o governo Bolsonaro passa a apoiar as ações
estadunidenses contra o modelo de soberania energética adotado na Venezuela favorecendo,
deste modo, a ampliação do poder econômico das multinacionais do petróleo e
consequente ameaça à economia brasileira através do fortalecimento destas em prejuízo
das políticas nacionais de superação do modelo colonial.
O governo brasileiro
submete-se aos interesses dos Estados Unidos e arrisca mergulhar nosso
subcontinente em sangue para simplesmente manter um quadro de injustiça
econômica.
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