A DIVIDA DA PETROBRAS E A
ENTREGA DO PETRÓLEO NACIONAL
Wladmir
Coelho
O
plano de investimentos da Petrobras prevê para o período entre 2012 e 2016 um
investimento de U$ 236, 5 bilhões. Deste total 60% encontram-se destinados a
exploração e produção (E&P) destes destinados 51% ao pré-sal.
Para
levantar estes recursos a Petrobras depende de mecanismos de financiamento resultantes
da emissão de ações ou contratação de dividas em estabelecimentos bancários
privados e públicos nacionais ou estrangeiros.
No
primeiro caso, a venda de ações, a Lei 9478/97, possibilitou a compra de ações
ordinárias – aquelas que permitem a participação nos resultados da empresa e
conferem o direito de voto nas assembleias - aos chamados “investidores”
estrangeiros.
Efetivada
esta abertura a elaboração da política econômica do petróleo no Brasil tornou-se
área de influência dos chamados fundos de investimentos normalmente
constituídos por capitais originários, principalmente, dos grandes bancos
internacionais somados ao oligopólio do petróleo.
Deste
modo para a elaboração, por exemplo, das políticas de abastecimento o governo
brasileiro passa a preocupar-se com o lucro destes “investidores” colocando em
segundo plano os interesses nacionais ocasionando, inclusive, o elevado valor
da gasolina em nossos postos de revenda.
A segunda forma de financiamento depende diretamente da
primeira, ou seja, os grandes investidores em ações na realidade tem sua origem
nos oligopólios financeiros e passam a ditar as normas que consideram ideais aos
seus interesses priorizando o maior prazer com o menor esforço. A palavra de
ordem é “austeridade” e sua tradução pode ser entendida como maior lucro
correndo maiores riscos. Mas quais riscos?
O
“risco”, neste caso, seria trabalhar com a possibilidade maior de acidentes
decorrentes do baixo custo e qualidade inferior dos serviços apresentando como resultado
o maior lucro possível.
Esta busca do lucro a qualquer custo originou
as políticas de terceirização, cortes no controle de qualidade além dos
elevados valores dos combustíveis. Sabemos todos que esta característica não é
exclusividade do Brasil bastando para este fim verificar a “competência” dos
oligopólios petrolíferos em tragédias como as ocorridas no Golfo do México,
Equador e recentemente na Bacia de Campos.
Controlando
a elaboração da política econômica do petróleo nacional foi fácil para os
oligopólios descarregar na Petrobrás a função de iniciar o processo de exploração
petrolífera em uma área que exige vultosos investimentos. A Lei 12351/10
legitimou esta intenção ao entregar à Petrobras a função de operadora dos
blocos do chamado pré-sal.
A
maldade deste fato encontra-se no controle, por parte da operadora Petrobras,
de somente 30% em cada bloco ficando o restante aberto às empresas
internacionais. Como sabemos o interesse dos oligopólios é exportar aos países
maiores consumidores todo o petróleo decorrendo deste fato o direcionamento da
política de investimentos da Petrobras a criação dos meios necessários para a
exportação futura. Assim nasceram os problemas e dificuldades de investimentos.
A
pressa em explorar o pré-sal ainda garantiu a formação de um fundo que vai
administrar os recursos desta futura exportação. Todavia devemos observar a
obrigatoriedade da aplicação destes valores futuros nos fundos de investimentos
internacionais. O oligopólio do petróleo nunca perde.
A
presença do Estado na elaboração de uma política econômica do petróleo que
atenda aos interesses nacionais é fundamental. A Petrobrás foi criada para
servir de elemento condutor desta política.
A
ausência da empresa de petróleo nacional para a execução desta política cria
situações como aquela observada durante o debate da possibilidade de
racionamento de energia elétrica. Esta possibilidade, ao que tudo indica, não
passou de especulação, todavia devemos observar um pequeno detalhe; Em caso de
necessidade de ampliação do uso do gás para movimentar as termoelétricas o
governo encontrará dificuldades em decorrência do preço deste combustível.
Este
preço, considerado elevado, é decorrente outra vez da política de abertura ao
oligopólio do petróleo da exploração das reservas minerais nacionais. Chegou-se
ao absurdo de entregar ao transportador, que utiliza uma concessão, a
propriedade do gás e retira deste ato a condição de prestação de serviço
público.
Em
caso de racionamento, por exemplo, o governo enfrentará dificuldades para
direcionar o gás às áreas necessitadas. A política de energia precisa de
urgente modificação no Brasil.
Apenas
para ilustrar. Na Alemanha, atualmente citada como a Meca do neoliberalismo,
ocorre um intenso debate no interior do governo a respeito da necessidade de
nacionalização do serviço de eletricidade.
O
Der Spiegel online publicou a respeito no último dia 16 de janeiro as
justificativas dos defensores deste ato “radical”. A origem: O país pretende acabar com o uso da
energia nuclear voltando-se desta forma para as chamadas energias limpas.
As
metas do governo, de modificação da matriz energética, encontram-se ameaçadas
em função do descompasso entre o interesse dos acionistas e aqueles da política
energética oficial. A solução seria a estatização da geração e distribuição de
energia criando para este fim uma empresa para a aplicação desta política
seguindo o mesmo modelo de criação da Petrobras, CEMIG, FURNAS e outras antigas
empresas mistas de energia.
Enquanto
isso verificamos no Brasil o endividamento da Petrobras como forma de garantir a exportação e lucro aos oligopólios.
Este fato representa uma contradição no discurso oficial de fortalecimento do
mercado interno como resposta a crise internacional.
Afinal
a garantia da produção nacional depende diretamente do controle dos recursos
energéticos acrescido, no caso do petróleo, na utilização decorrente de seu
poder econômico.
Ainda
existe tempo para a modificação deste quadro afinal na Alemanha existe um
debate quanto a nacionalização das fontes de energia no Brasil não podemos
ficar pautados pelos interesses dos grandes grupos de sempre.
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