SAUDOSISTAS
DA DITADURA E
REVISIONISMO HISTÓRICO
Wladmir
Coelho
O grupo vencedor das
eleições presidenciais caracterizou-se, durante a campanha eleitoral, por
utilizar as cores verde e amarelo e repetir a exaustão os termos patriotismo, família,
Deus em uma espécie de ressureição do modelo publicitário dos anos de 1970.
Naquela época patriotismo
confundia-se com apoio irrestrito as decisões do governo ditatorial aspecto resumido,
através da propaganda oficial, na singela frase “Brasil ame-o ou deixe-o”.
Bolsonaro reeditou esta sentença através de declarações como: “vamos fuzilar” e
“vamos exilar” expondo o texto oculto da antiga frase publicitária.
Os saudosistas eleitos
desejam ainda uma revisão histórica dos atos dos governos militares e sem o
menor pudor e embasamento real fazem circular na imprensa afirmativas absurdas
a respeito dos livros didáticos de História anunciando, inclusive, a revisão
destes com textos mostrando a “verdade” a respeito da ditadura militar.
Esta afirmativa dos
saudosistas, em termos reais, necessita de melhor fundamentação considerando
aspectos evidentes da sobrevivência e vitalidade, em nossos dias, da ideologia
imposta a partir de 1964. Neste ponto destaco a fantasia do papel das Forças Armadas
como instituição não ideológica ficando esta com a função de tutelar os
destinos do Brasil.
Repercute esta fantasia,
inclusive, em setores da comunicação considerados esquerdistas e alimentam
ilusões a respeito da parcela militar do grupo representado por Jair Bolsonaro.
Temos desta interpretação
fantasiosa das Forças Armadas a ilusória classificação de nacionalistas de
qualquer individuo fardado com estrelas nos ombros. Este fato não resiste ao mínimo
estudo do predomínio – ainda em nossos dias – da formação deste contingente ainda
com base na doutrina de segurança nacional.
Esta doutrina, de muita
segurança e pouco nacional, possui suas bases históricas na tese do eventual
ataque de forças comunistas ao continente americano existindo neste apenas uma
nação em condições de enfrentar os agentes vermelhos; os Estados Unidos. Seguem-se
ainda toda série de lendas para fundamentar a fantasia iniciada nos anos de
1940 ficando a principal delas no caráter divino desta nação resumido na crença
do “destino manifesto”.
Podemos ilustrar este
fato observando a postura dos militares brasileiros durante o processo de
criação da Petrobras. Havia uma espécie de acordo quanto a necessidade de
criação da empresa, mas não em relação a sua função.
O grupo nacionalista, de
civis e militares, apresentava a criação da empresa como forma de romper com a
dependência econômica do Brasil do imperialismo estadunidense enquanto o grupo
entreguista, de civis e militares, defendia uma empresa para refino de petróleo
sem impedir a entrega da exploração às multinacionais, em sua maioria, sediadas
nos Estados Unidos.
O general Juarez Távora foi
o mais destacado representante do segundo grupo e não podemos esquecer sua
participação, onze anos após a criação da Petrobras, no golpe militar. Távora
foi o autor da tese da Segurança Continental para garantir a visão estratégica militar
da impossibilidade do Estado brasileiro assumir todo o processo de exploração
petrolífera.
Esta tese afirmava o
seguinte: em caso de uma guerra da União Soviética contra os Estados Unidos o
combustível para a defesa do continente assume um caráter vital. Assim,
prosseguia o general, não seria possível arriscar o fornecimento deste a partir
da proibição das multinacionais atuarem no setor considerando o monopólio da
Petrobras.
Observem: a visão
estratégica da tese em questão não levava em consideração a emancipação
econômica nacional e buscava a manutenção da ordem estabelecida através do domínio
das multinacionais confundidos este com a defesa das liberdades, inclusive,
comerciais associados a crença da não intervenção do Estado na economia.
Este debate, permitir ou
negar o monopólio da Petrobras, continuou após a instituição da Lei 2004 de
1953 cuja implantação jamais alcançou a plenitude considerando a criação dos
contratos de risco durante a ditadura militar e quebra definitiva do monopólio
durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Retomando o fato livro
didático: não conheço manual escolar de História tratando deste tema ou aprofundado
no debate a respeito da permanência em instituições nacionais de aspectos
ideológicos implantados durante a ditadura militar.
Cometem um terrível
equivoco aqueles analistas cuja visão associa o vice-presidente eleito ao
seguimento nacionalista das Forças Armadas. Este seguimento foi varrido da instituição
com o golpe de 1964 com consequente adesão à Doutrina de Segurança Nacional e sua
fundamentação de submissão a ordem imperialista.
Esta visão, do general
nacionalista, constitui igual saudosismo daqueles defensores das maravilhas da
ditadura de 1964 e confundem o rompimento com o modelo de base colonial com
simples submissão as necessidades, cujo formato sofre modificações, dos
interesses econômicos dos Estados Unidos.
Não existe uma divisão no
grupo do presidente eleito entre militares nacionalistas e civis ultraliberais.
A visão estratégica dos militares bolsonaristas, ou abrigados no guarda-chuva deste
senhor, constitui herança legitima da tese da Segurança Continental. Existe
disputa de poder, somente isso.
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