NÃO
VIVEMOS EM UMA NOVELA
Wladmir
Coelho
Os atuais detentores do
poder político brasileiro encontram-se legitimados a partir do discurso
irracional da negação do processo de dependência econômica criando este um
revisionismo de base mítica no qual um herói vai acabar com a corrupção
aprisionando e silenciando exatamente aqueles que, em maior ou menor escala,
defendem o rompimento com as causas históricas do atraso econômico nacional, ou
seja, o modelo econômico de base colonial.
Este discurso mítico não
nega o atraso econômico nacional e assume como missão a superação desta
condição, contudo a sua base irracional possibilita uma narrativa fantástica na
qual os detentores do poder econômico transformam-se em vítimas dos
trabalhadores em função dos “privilégios” que estes possuem.
Retirar direitos
trabalhistas como forma de superação de uma crise sem fim constituiu a base do
discurso dos atuais governantes e esta fórmula serviu para a divisão de nosso
povo acuado pelo crescente desemprego.
O capitalista, afirma a
narrativa mítica, pretende investir, mas está sufocado em função dos direitos
trabalhistas oferecidos aos privilegiados que ainda possuem emprego e acrescente
ao sofrimento deste inocente empresário o fato propina que consome o restante
de seu capital.
A narrativa mítica
possibilitou, inclusive, a naturalização da utilização da força bruta e
transformação dos setores políticos populares em inimigos do Estado legitimando
os meios para a punição ideológica fantasiada de justiça.
Os atuais detentores do
poder político no Brasil acreditam tomar parte de uma revolução e iniciaram uma
narrativa histórica na qual todos os problemas do país ficam resumidos aos
primeiros anos do século 21 ponto inicial da corrupção.
O chefe revisionista delirantemente,
para apoiar a narrativa mítica, criou a crença em um passado glorioso para o
período iniciado em 1964 conhecido e reconhecido como ditadura militar, contudo
as contradições verificadas entre as políticas econômicas do período e seu
entreguismo desvairado resumiu sua adoração aos aspectos sádicos dos
torturadores.
O revisionismo mítico
sustenta, desta forma, as bases para o uso da força como meio de legitimar a
superação do atraso econômico ocultando a contradição, quanto ao papel do
Estado, no processo de organização da economia.
Precisamos aqui recordar
que a ditadura militar, em seu aspecto econômico, prosseguiu e ampliou a
política de dependência adotada no governo de Juscelino Kubitscheck ponto de
rompimento com o nacionalismo econômico varguista.
Recordo ainda que exatamente
no período que antecede ao golpe militar de 1964 o governo trabalhista de João
Goulart, através das chamadas reformas de base, associava ao modelo varguista
os primeiros direitos sociais ou a garantia destes em nossa história
tornando-se assim um inimigo declarado das forças imperialistas.
Vejamos: a ditadura
militar desnacionalizou a economia brasileira apresentando um modelo de
industrialização dependente apoiando esta fórmula no planejamento estatal garantindo
este o controle da energia e matéria prima.
O fracasso deste modelo
apresentou-se exatamente no fato dependência das multinacionais que optaram em
distribuir suas instalações em diferentes países dividindo a produção e quando
o Brasil percebeu possuía apenas nominalmente uma indústria sem controlar a
tecnologia ou a elaboração desta.
Este fato não foi em
essência diferente do verificado na China, contudo este país além de proteger-se
através de diferentes planos para superar o atraso econômico permitiu a
presença do capital externo a partir de rígido controle das áreas e limites de
atuação das multinacionais revelando, inclusive, um plano para o desenvolvimento
tecnológico constituindo esta, em nossos dias, a principal causa das disputas
com os Estados Unidos.
Retomando o revisionismo
mítico; a ditadura militar foi fantasiada e apresentada como um período de
glórias, contudo esta narrativa limita-se a exaltação de uma ordem obtida
através do uso da violência e do sadismo dos torturadores contra todos os
inimigos de um Estado submetido ao imperialismo recebendo seus governantes,
ironicamente, o título de patriotas.
Na realidade durante a
ditadura militar os governos submeteram-se aos ditames das multinacionais,
contudo a necessidade destas de abastecerem o mercado interno e ainda a
exportação criaram os meios de perversão da política econômica nacionalista transformada,
neste caso, em meio para o financiamento da matéria prima e combustíveis
do capital estrangeiro aqui instalado e foi somente por este motivo que a
Petrobras, a Vale do Rio Doce não foram extintas durante a ditadura.
Como é possível verificar
o erro não encontrava-se no fato intervenção do Estado na economia e sim na
política econômica dependente apresentando este fato a limitação revisionista e
acrítica dos míticos (ou seriam místicos?) revelando o dito patriotismo dos
generais da ditadura como uma espécie de tributo às multinacionais acrescido
este de vantagens pessoais, inclusive, na forma de elevados cargos
administrativos nestas empresas.
Contradição das
contradições o Brasil, no período posterior a ditadura, ainda conseguiu herdar
os elementos garantidores para intervenção no domínio econômico a ponto de
incluir na Constituição de 1988 estas garantias agora em uma estrutura voltada
a superação do modelo econômico de base colonial.
Não por coincidência o
discurso revisionista mítico, como forma de impedir o rompimento com o modelo
de exploração de base colonial, vai enterrando a Constituição de 1988 um
processo iniciado com Fernando Collor e continuado por Fernando Henrique
Cardoso.
Curiosamente muitos ainda
espantam-se com uma declaração, em vídeo que circula na internet, do então
deputado Jair Bolsonaro defendendo o fuzilamento de Fernando Henrique Cardoso
quando este extinguiu o monopólio da Petrobras.
Bolsonaro, na realidade,
continua com os mesmos propósitos; defender o predomínio do capital
estadunidense e simplesmente naquele momento – em função de suas conhecidas
limitações – ainda não havia percebido que a entrega da empresa nacional de
petróleo era necessária aos interesses do imperialismo.
Os atuais governantes
foram eleitos a partir de uma farsa e as provas, agora documentais, encontram-se
estampadas nas redes sociais e grandes veículos de imprensa revelando uma trama
envolvendo a justiça cujo resultado primeiro foi o comprometimento da lisura
das eleições de 2018 seguida da perseguição aos trabalhadores e na cassação dos
direitos sociais.
A tragédia revisionista
irracionalista verifica-se ainda na destruição da pesquisa e consequente
criação tecnológica reduzindo o Brasil a condição de vendedor de matéria prima
e outros primarismos criando, via imprensa dita grande, a ilusão de tempos
melhores.
Os resultados práticos da
política econômica dos mistificadores apresentam suas primeiras consequências verificando-se
o aumento da insatisfação popular diante do desemprego gigantesco de nossos
dias, da destruição da educação e saúde pública.
Contudo ainda temos a
falta de um projeto claro de superação de nosso atraso e rompimento com o
modelo de submissão ao imperialismo e falando francamente estamos presos, em
determinada medida, à crença de uma salvação inclusive resultante de “bombas”
divulgadas através dos mesmos meios e pessoas responsáveis pela criação do
revisionismo mítico base de todo este terrível processo de destruição do
Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário